sexta-feira, 10 de abril de 2009

Yes, we can? por António Carmona Rodrigues

Publicado na Revista "Transportes em Revista" - edição Abril 2009
Yes, we can?
Estive para me deslocar a Singapura há quase cinco anos, no âmbito de um contrato de fornecimento de catamarans para o transporte fluvial no rio Tejo. Acabei por só vir a conhecer um pouco de Singapura há uns dias, num âmbito turístico. Tive a sorte de ter tido uma visita guiada por um português que ali vive há uns anos e que sabiamente me conduziu em primeiro lugar ao Departamento de Estratégia e Planeamento. Seguramente que este local não será o mais procurado pelos turistas, mas merece ser visitado. Aqui é possível ver bem como tem sido feito o planeamento e o desenvolvimento de Singapura. No meio de uma informação, incluindo fantásticas maquetas, é possível perceber não só o caminho que até aqui foi percorrido, mas também o que Singapura pretende traçar para o futuro.
Singapura situa-se num terreno bastante condicionado, onde existiram zonas pantanosas. Ao longo dos anos soube-se investir. Primeiro no emprego, na habitação e na educação. Depois vieram outras preocupações, como as infra-estruturas, os serviços ou o ambiente. Singapura é hoje uma das cidades com melhor qualidade de vida, onde é agradável ver as pessoas, com uma forte população jovem e um ar feliz. A cidade apresenta-se bem ordenada, com grande dinamismo, extremamente limpa e tudo parece funcionar bem.
Quanto aos transportes, tem de se destacar o papel crucial do Porto de Singapura, com uma das maiores actividades comerciais do mundo. O aeroporto, moderno e funcional, está adaptado às necessidades do país e situa-se a uma confortável meia hora do centro da cidade. O porto está também distante do centro em cerca de meia hora, mas localiza-se do outro lado da cidade, que liga à estrada principal que vai para a Malásia e a Tailândia.
Por toda a cidade nota-se que o trânsito flui sempre muito bem, mesmo nas horas de ponta. O preço dos automóveis é elevado, assim como tudo o que diz respeito à sua utilização, como os impostos, seguros ou parques de estacionamento. Existe uma boa oferta de transportes públicos, com boas taxas de utilização. Mas na cidade também foram construídas infra-estruturas subterrâneas que combinam passagens de peões com espaços multifuncionais, como zonas comerciais ou culturais. Os peões que se deslocam nos transportes públicos quase não têm de atravessar ruas à superfície, dispondo ainda de muitas passagens aéreas. Não obstante, não existem barreiras à mobilidade das pessoas com dificuldades.
Em muitos aspectos, pode dizer-se que Singapura pode ser um bom exemplo de integração e intermodalidade de transportes, com claras vantagens energéticas, ambientais e sociais. Singapura tem, aparentemente, sabido tomar as decisões certas no tempo certo em matéria de transportes.
Mas o sistema de transportes é só uma parte do modelo de desenvolvimento. Singapura está hoje preparada para os desafios que as grandes cidades têm pela frente, prevendo já, por exemplo, a subida do nível do mar nas infra-estruturas que se encontram em estudo.
Tem-nos faltado uma estratégia e um modelo de desenvolvimento. Fala-se com mais facilidade do passado do que das linhas orientadoras para o futuro. A política de transportes não pode deixar de ser integrável, e integrada, nas opções que se vierem a tomar. Acredito que podemos ser capazes de ter uma visão integrada dos transportes para o nosso desenvolvimento sustentado. Questões como a programação e o investimento das grandes infra-estruturas, a implementação séria das autoridades metropolitanas de transportes ou o financiamento dos sistemas de transportes não podem ficar alheadas de uma política desenvolvimento que seja abertamente debatida e responsavelmente decidida. Acredito que somos capazes. Mas não podemos estar sempre a adiar o nosso futuro.

António Carmona Rodrigues, 22 de Fevereiro de 2009

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