in: PortalLisboa de 15.12.2008
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GRANDE ENTREVISTA
Grande Entrevista do Portal Lisboa a Carmona Rodrigues
“Lembro-me que há precisamente um ano que o Presidente da CML disse que era uma questão de vida ou de morte para a cidade de Lisboa o empréstimo de 500 milhões de euros. Passou um ano e tal e não veio nem um cêntimo e também não há notícias, não há problemas. Das duas uma, ou era um grande equívoco, quando se dizia que a situação financeira da CML estava muito má, ou alguém estava a mentir, ou ainda as duas coisas.”
PL – Professor, fazendo uma análise do trabalho do actual presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Dr. António Costa, consegue-me referir um ponto positivo e um ponto negativo desta governação?
CR – Um ponto positivo é ter conseguido fazer, não sei bem como, com que efectivamente, nas notícias de primeira página dos jornais, ter saído com tanta frequência a Câmara Municipal de Lisboa. Aparentemente isso foi conseguido, ou seja, a CML ainda aparece muitas vezes com grandes notícias nos jornais, mas com menos frequência e isso foi um mérito do actual executivo.
PL – Mas isso também não tem acontecido a nível nacional?
CR – A nível nacional até me parece que é o contrário, aparece com muita frequência só que a apresentar como se fossem boas notícias, boas novidades, boas soluções para o país. Esquecendo um pouco, escamoteando um pouco, aquilo que são as notícias menos agradáveis, o desemprego, a situação económica e os outros problemas do país. Ao nível da CML também. Temos a noção de que depois das reuniões de Câmara, quando há o breifing com a comunicação social, onde nós tecemos as nossas considerações, nada transparece para os meios de comunicação social. Portanto é porque não deve ser importante. Isto para dizer que num passado recente quando se partia uma telha era uma notícia de primeira página, agora outras coisas continuam a acontecer e nada aparece, portanto deve haver algum mérito e esse é o aspecto positivo.
O aspecto mais negativo é o grande flop, para não dizer embuste, que foi o empréstimo ao abrigo do plano de saneamento financeiro, que teve as maiores reservas do Tribunal de Contas, que não aprovou o empréstimo. Lembro-me que há precisamente um ano que o Presidente da CML disse que era uma questão de vida ou de morte para a cidade de Lisboa o empréstimo de 500 milhões de euros. Passou um ano e tal e não veio nem um cêntimo e também não há notícias, não há problemas. Das duas uma, ou era um grande equívoco quando se dizia que a situação financeira da CML estava muito má, ou alguém estava a mentir, ou ainda as duas coisas. Este é o grande aspecto negativo deste executivo. Não veio nem um cêntimo e ninguém grita, nem diz nada, está tudo bem, deve ser um milagre. A situação afinal era má ou era boa? Os 500 milhões eram necessários ou não eram necessários?
PL- Como comenta a cada vez maior aproximação do Vereador Sá Fernandes ao actual executivo?
CR – Acho que esta aproximação já vem de longe, desde da própria campanha eleitoral para as eleições intercalares de 2007. Já se conseguia antecipar esta adesão. Toda a gente já se apercebeu da grande acomodação que teve ao poder. O Zé como se chamava, era uma pessoa que ia constantemente gritar contra tudo na cidade, estava tudo mal e agora está tudo bem. Só para ter uma ideia, a apropriação de espaço público por campanhas publicitárias de iniciativa privada, antes era um escândalo, agora é tudo com grande naturalidade, grande rigor e grande normalidade.
PL – Há quem diga que foi substituído nesse papel pela Vereadora Helena Roseta...
CR – Não, isso seria uma falta de consideração da nossa parte para com a Vereadora Helena Roseta, estar a fazer essa comparação. Eu acho que a Helena Roseta é uma voz independente, que em certas coisas apoia as posições do Presidente António Costa. Não a podemos colocar ao mesmo nível.
PL – Não gostaria de voltar a dar um salto para a política nacional?
CR – Eu já tive uma função de responsabilidade política no governo do Dr. Durão Barroso, já tive essa experência e portanto se me pergunta se era capaz de deixar a minha condição de independente para passar a ser militante de um partido, não está no meu horizonte. Respeito muito os partidos e a actividade militante das pessoas. Mas sempre foi uma posição que tomei pessoalmente na minha vida – nunca tive uma atracção especial por partidos, não está nos meus planos de vida.
PL – E as próximas eleições autárquicas?
CR – Acho que está tudo um pouco em aberto. Não serei candidato. Acho que este ano vai ser um ano difícil, não só a nível local mas também a nível nacional – o empobrecimento das famílias, o encerramento de empresas, o desemprego, vai ser um ano difícil do ponto de vista social. Acho que também vai ser difícil do ponto de vista político, vão haver três eleições, as europeias, as legislativas e as autárquicas. O PSD tem tido várias dificuldades internas em se apresentar como uma alternativa ao poder, mas espero que o consiga. Por outro lado vejo o PS acomodado ao seu poder absoluto, amparado em parte pela comunicação social. Como é que se compreende que o PS nos últimos treze anos tenha estado onze anos no poder e exista um extremar entre pessoas muito ricas e um crescente de pessoas muito pobres, o ideário socialista é precisamente o contrário disto que defende.
PL – O Professor foi eleito através de um movimento de cidadãos, tal como a Vereadora Helena Roseta, agora verificamos que o professor não será candidato. O sucesso que foi a eleição de tantos vereadores por movimentos de cidadãos acaba por se esfumar...
CR – Sabe que entretanto as condições e já na altura, não favoreciam e continuam a não favorecer, o aparecimento de movimentos de cidadãos independentes. A famosa revisão da lei autárquica vai ficar na gaveta mais uma vez, para ter uma ideia nós temos numa situação à partida muito mais difícil do que qualquer partido político. Para voltarmos a ser candidatos temos que reunir novamente um grande número de assinaturas e devo dizer que na altura até as obtive com grande facilidade, eram quatro mil e obtive perto de doze mil, para poder ser candidato. Dos doze candidatos que se apresentaram, muitos deles que são partidos de âmbito nacional, tiveram menos votos do que eu assinaturas para poder ser candidato. Para ter uma ideia também, um partido político por existir tem direito a tempo de antena na televisão, durante a campanha eleitoral os movimentos independentes não têm esse direito. Enquanto a lei autárquica estiver como está,
o facto de ter sido independente não meu deu algum apoio e protecção que se fosse militante teria e senti muito isso. Não digo que tenha sido posto de lado por não pertencer à estrutura do partido, mas o ser pressionado não. Sou imúne a qualquer pressão, seja do partido ou de qualquer outro lado. Não digo pressões, mas tentativas de influenciar e de às vezes arranjar coisas para certas pessoas, isso houve, mas eu sou imúne a isso. Também por ter sido imúne a essas coisas é que sofri o que sofri.
PL – Voltando a Lisboa. Se tivesse que eleger uma área prioritária para a actuação da CML, qual seria?
CR – Uma área fundamental de intervenção no curto prazo continuam a ser aqueles projectos que eu no meu mandato tinha posto como prioritários e que este executivo pôs de parte. Para quem não sabe bem a realidade de Lisboa, talvez o que eu vá dizer não diga muito a muitas pessoas. Tinha posto como prioridade a reabilitação urbana de três bairros: que são o Bairro Padre Cruz, Bairro da Boavista e Bairro da Liberdade. Lisboa não pode ter bairros com tantos problemas sociais como têm esses três bairros. Eu tinha feito aprovar na CML soluções para a reabilitação urbana desses três bairros, que agora foram postas na gaveta, o que vejo com grande tristeza. Hoje em dia, dentro da grande panóplia de problemas que Lisboa tem, eu voltaria a pôr estes três bairros como prioridade.
PL – Acha que o actual Presidente, António Costa, será reeleito em 2009?
CR – Eu acho que pode ser, é um grande candidato e beneficia sempre do facto de já lá estar. Agora acho que ele tem que fazer mais e melhor e que tem que fazer algumas alterações no rumo que tem vindo a traçar. Há um ano o candidato António Costa era um fortíssimo candidato, era o número dois do Partido Socialista, tinha toda a máquina do aparelho e juntou à sua volta tudo o que eram apoiantes – o PS jogou os trunfos todos e teve um resultado muito à quem do que era de esperar perante esta aposta. Recordo que só ficou com seis veradores o que é um resultado modesto para quem apostou tudo em Lisboa. Mas criou-se uma grande expectativa, principalmente na comunicação social, pensou-se que agora é que isto ia entrar nos eixos, tudo que era mau antes ia passar a ser bom, passado quase um ano e meio já se começa a sentir na população muito desencanto não tanto por aquilo que foi feito, mas principalmente por aquilo que não foi feito. Começam já a aparecer também bastantes opinion makers a criticar o facto de pouco ou nada se estar a fazer na cidade e isso é uma coisa que não vai facilitar a reeleição de António Costa. Tem de melhorar várias coisas e alterar alguns rumos de opções que tem vindo a tomar, se não vai ter algumas dificuldades. Não sei contra quem ao certo vai concorrer,
ela claramente desincentiva e penaliza a participação de movimentos independentes. Houve síntomas no sentido de não facilitar a participação de movimentos independentes nas intercalares de 2007, como por exemplo a marcação dos prazos muito curtos para as eleições, que depois foram adiados. Foi um sinal contrário ao que acontece nos restantes países europeus, em que tem havido uma adaptação do quadro legal das eleições locais, para que cada vez mais exista representatividade de movimentos independentes.
PL – Existe um fenómeno de criação de novos partidos políticos: só este ano nasceram dois novos partidos políticos, primeiro o Movimento Mérito e Sociedade liderado pelo Professor Eduardo Correia e depois o Movimento Esperança Portugal presidido pelo Dr. Rui Marques. Um terceiro partido está a reunir assinaturas, liderado pela Professora Manuela Magno. Como comenta este fenómeno? Acha que o mapa político português vais mudar? Há espaço para novos partidos políticos?
CR – Eu acho que não – tem que haver é uma reforma dos actuais partidos políticos.Uma reforma que começa pelo interior. O aparecer de novos partidos é normal em democracia e são síntomas do desconforto e do desagrado de uma parte da população, relativamente ao desempenho dos partidos existentes, portanto, vejo isso com naturalidade. A verdade é que um movimento independente é diferente de passar de um movimento de cidadãos a partido, pois quando se ganha uma certa escala começasse a ter os mesmos problemas que os outros partidos têm. Acho de salutar que esses partidos apareçam, mas não vejo que venham alterar significativamente o padrão existente de distribuição de votos. Acho que devia ser posta em reflexão uma certa reforma dos actuais partidos, principalmente dos grandes, enfim, acabar com uma lógica de funcionamento muito corporativista que põe o interesse dos próprios partidos à frente do interesse da população. Dentro de cada partido tem que haver uma reflexão sobre se aquilo que fazem lá dentro está na linha daquilo que o país precisa.
PL – O Professor quando exerceu funções pelo PSD sentiu-se pressionado pelo aparelho?
CR – Pressionado não, aliás, fui convidado para integrar um governo e fui convidado para ser candidato à CML pelo PSD. Mas é verdade que o facto de ter sido independente não meu deu algum apoio e protecção que se fosse militante teria e senti muito isso. Não digo que tenha sido posto de lado por não pertencer à estrutura do partido, mas o ser pressionado não. Sou imúne a qualquer pressão, seja do partido ou de qualquer outro lado. Não digo pressões, mas tentativas de influenciar e de às vezes arranjar coisas para certas pessoas, isso houve, mas eu sou imúne a isso. Também por ter sido imúne a essas coisas é que sofri o que sofri.
PL – Voltando a Lisboa. Se tivesse que eleger uma área prioritária para a actuação da CML, qual seria?
CR – Uma área fundamental de intervenção no curto prazo continuam a ser aqueles projectos que eu no meu mandato tinha posto como prioritários e que este executivo pôs de parte. Para quem não sabe bem a realidade de Lisboa, talvez o que eu vá dizer não diga muito a muitas pessoas. Tinha posto como prioridade a reabilitação urbana de três bairros: que são o Bairro Padre Cruz, Bairro da Boavista e Bairro da Liberdade. Lisboa não pode ter bairros com tantos problemas sociais como têm esses três bairros. Eu tinha feito aprovar na CML soluções para a reabilitação urbana desses três bairros, que agora foram postas na gaveta, o que vejo com grande tristeza. Hoje em dia, dentro da grande panóplia de problemas que Lisboa tem, eu voltaria a pôr estes três bairros como prioridade.
PL – Acha que o actual Presidente, António Costa, será reeleito em 2009?
CR – Eu acho que pode ser, é um grande candidato e beneficia sempre do facto de já lá estar. Agora acho que ele tem que fazer mais e melhor e que tem que fazer algumas alterações no rumo que tem vindo a traçar. Há um ano o candidato António Costa era um fortíssimo candidato, era o número dois do Partido Socialista, tinha toda a máquina do aparelho e juntou à sua volta tudo o que eram apoiantes – o PS jogou os trunfos todos e teve um resultado muito à quem do que era de esperar perante esta aposta. Recordo que só ficou com seis veradores o que é um resultado modesto para quem apostou tudo em Lisboa. Mas criou-se uma grande expectativa, principalmente na comunicação social, pensou-se que agora é que isto ia entrar nos eixos, tudo que era mau antes ia passar a ser bom, passado quase um ano e meio já se começa a sentir na população muito desencanto não tanto por aquilo que foi feito, mas principalmente por aquilo que não foi feito. Começam já a aparecer também bastantes opinion makers a criticar o facto de pouco ou nada se estar a fazer na cidade e isso é uma coisa que não vai facilitar a reeleição de António Costa. Tem de melhorar várias coisas e alterar alguns rumos de opções que tem vindo a tomar, se não vai ter algumas dificuldades. Não sei contra quem ao certo vai concorrer, mas terá que inverter algumas opções.
GRANDE ENTREVISTA
Grande Entrevista do Portal Lisboa a Carmona Rodrigues
“Lembro-me que há precisamente um ano que o Presidente da CML disse que era uma questão de vida ou de morte para a cidade de Lisboa o empréstimo de 500 milhões de euros. Passou um ano e tal e não veio nem um cêntimo e também não há notícias, não há problemas. Das duas uma, ou era um grande equívoco, quando se dizia que a situação financeira da CML estava muito má, ou alguém estava a mentir, ou ainda as duas coisas.”
PL – Professor, fazendo uma análise do trabalho do actual presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Dr. António Costa, consegue-me referir um ponto positivo e um ponto negativo desta governação?
CR – Um ponto positivo é ter conseguido fazer, não sei bem como, com que efectivamente, nas notícias de primeira página dos jornais, ter saído com tanta frequência a Câmara Municipal de Lisboa. Aparentemente isso foi conseguido, ou seja, a CML ainda aparece muitas vezes com grandes notícias nos jornais, mas com menos frequência e isso foi um mérito do actual executivo.
PL – Mas isso também não tem acontecido a nível nacional?
CR – A nível nacional até me parece que é o contrário, aparece com muita frequência só que a apresentar como se fossem boas notícias, boas novidades, boas soluções para o país. Esquecendo um pouco, escamoteando um pouco, aquilo que são as notícias menos agradáveis, o desemprego, a situação económica e os outros problemas do país. Ao nível da CML também. Temos a noção de que depois das reuniões de Câmara, quando há o breifing com a comunicação social, onde nós tecemos as nossas considerações, nada transparece para os meios de comunicação social. Portanto é porque não deve ser importante. Isto para dizer que num passado recente quando se partia uma telha era uma notícia de primeira página, agora outras coisas continuam a acontecer e nada aparece, portanto deve haver algum mérito e esse é o aspecto positivo.
O aspecto mais negativo é o grande flop, para não dizer embuste, que foi o empréstimo ao abrigo do plano de saneamento financeiro, que teve as maiores reservas do Tribunal de Contas, que não aprovou o empréstimo. Lembro-me que há precisamente um ano que o Presidente da CML disse que era uma questão de vida ou de morte para a cidade de Lisboa o empréstimo de 500 milhões de euros. Passou um ano e tal e não veio nem um cêntimo e também não há notícias, não há problemas. Das duas uma, ou era um grande equívoco quando se dizia que a situação financeira da CML estava muito má, ou alguém estava a mentir, ou ainda as duas coisas. Este é o grande aspecto negativo deste executivo. Não veio nem um cêntimo e ninguém grita, nem diz nada, está tudo bem, deve ser um milagre. A situação afinal era má ou era boa? Os 500 milhões eram necessários ou não eram necessários?
PL- Como comenta a cada vez maior aproximação do Vereador Sá Fernandes ao actual executivo?
CR – Acho que esta aproximação já vem de longe, desde da própria campanha eleitoral para as eleições intercalares de 2007. Já se conseguia antecipar esta adesão. Toda a gente já se apercebeu da grande acomodação que teve ao poder. O Zé como se chamava, era uma pessoa que ia constantemente gritar contra tudo na cidade, estava tudo mal e agora está tudo bem. Só para ter uma ideia, a apropriação de espaço público por campanhas publicitárias de iniciativa privada, antes era um escândalo, agora é tudo com grande naturalidade, grande rigor e grande normalidade.
PL – Há quem diga que foi substituído nesse papel pela Vereadora Helena Roseta...
CR – Não, isso seria uma falta de consideração da nossa parte para com a Vereadora Helena Roseta, estar a fazer essa comparação. Eu acho que a Helena Roseta é uma voz independente, que em certas coisas apoia as posições do Presidente António Costa. Não a podemos colocar ao mesmo nível.
PL – Não gostaria de voltar a dar um salto para a política nacional?
CR – Eu já tive uma função de responsabilidade política no governo do Dr. Durão Barroso, já tive essa experência e portanto se me pergunta se era capaz de deixar a minha condição de independente para passar a ser militante de um partido, não está no meu horizonte. Respeito muito os partidos e a actividade militante das pessoas. Mas sempre foi uma posição que tomei pessoalmente na minha vida – nunca tive uma atracção especial por partidos, não está nos meus planos de vida.
PL – E as próximas eleições autárquicas?
CR – Acho que está tudo um pouco em aberto. Não serei candidato. Acho que este ano vai ser um ano difícil, não só a nível local mas também a nível nacional – o empobrecimento das famílias, o encerramento de empresas, o desemprego, vai ser um ano difícil do ponto de vista social. Acho que também vai ser difícil do ponto de vista político, vão haver três eleições, as europeias, as legislativas e as autárquicas. O PSD tem tido várias dificuldades internas em se apresentar como uma alternativa ao poder, mas espero que o consiga. Por outro lado vejo o PS acomodado ao seu poder absoluto, amparado em parte pela comunicação social. Como é que se compreende que o PS nos últimos treze anos tenha estado onze anos no poder e exista um extremar entre pessoas muito ricas e um crescente de pessoas muito pobres, o ideário socialista é precisamente o contrário disto que defende.
PL – O Professor foi eleito através de um movimento de cidadãos, tal como a Vereadora Helena Roseta, agora verificamos que o professor não será candidato. O sucesso que foi a eleição de tantos vereadores por movimentos de cidadãos acaba por se esfumar...
CR – Sabe que entretanto as condições e já na altura, não favoreciam e continuam a não favorecer, o aparecimento de movimentos de cidadãos independentes. A famosa revisão da lei autárquica vai ficar na gaveta mais uma vez, para ter uma ideia nós temos numa situação à partida muito mais difícil do que qualquer partido político. Para voltarmos a ser candidatos temos que reunir novamente um grande número de assinaturas e devo dizer que na altura até as obtive com grande facilidade, eram quatro mil e obtive perto de doze mil, para poder ser candidato. Dos doze candidatos que se apresentaram, muitos deles que são partidos de âmbito nacional, tiveram menos votos do que eu assinaturas para poder ser candidato. Para ter uma ideia também, um partido político por existir tem direito a tempo de antena na televisão, durante a campanha eleitoral os movimentos independentes não têm esse direito. Enquanto a lei autárquica estiver como está,
o facto de ter sido independente não meu deu algum apoio e protecção que se fosse militante teria e senti muito isso. Não digo que tenha sido posto de lado por não pertencer à estrutura do partido, mas o ser pressionado não. Sou imúne a qualquer pressão, seja do partido ou de qualquer outro lado. Não digo pressões, mas tentativas de influenciar e de às vezes arranjar coisas para certas pessoas, isso houve, mas eu sou imúne a isso. Também por ter sido imúne a essas coisas é que sofri o que sofri.
PL – Voltando a Lisboa. Se tivesse que eleger uma área prioritária para a actuação da CML, qual seria?
CR – Uma área fundamental de intervenção no curto prazo continuam a ser aqueles projectos que eu no meu mandato tinha posto como prioritários e que este executivo pôs de parte. Para quem não sabe bem a realidade de Lisboa, talvez o que eu vá dizer não diga muito a muitas pessoas. Tinha posto como prioridade a reabilitação urbana de três bairros: que são o Bairro Padre Cruz, Bairro da Boavista e Bairro da Liberdade. Lisboa não pode ter bairros com tantos problemas sociais como têm esses três bairros. Eu tinha feito aprovar na CML soluções para a reabilitação urbana desses três bairros, que agora foram postas na gaveta, o que vejo com grande tristeza. Hoje em dia, dentro da grande panóplia de problemas que Lisboa tem, eu voltaria a pôr estes três bairros como prioridade.
PL – Acha que o actual Presidente, António Costa, será reeleito em 2009?
CR – Eu acho que pode ser, é um grande candidato e beneficia sempre do facto de já lá estar. Agora acho que ele tem que fazer mais e melhor e que tem que fazer algumas alterações no rumo que tem vindo a traçar. Há um ano o candidato António Costa era um fortíssimo candidato, era o número dois do Partido Socialista, tinha toda a máquina do aparelho e juntou à sua volta tudo o que eram apoiantes – o PS jogou os trunfos todos e teve um resultado muito à quem do que era de esperar perante esta aposta. Recordo que só ficou com seis veradores o que é um resultado modesto para quem apostou tudo em Lisboa. Mas criou-se uma grande expectativa, principalmente na comunicação social, pensou-se que agora é que isto ia entrar nos eixos, tudo que era mau antes ia passar a ser bom, passado quase um ano e meio já se começa a sentir na população muito desencanto não tanto por aquilo que foi feito, mas principalmente por aquilo que não foi feito. Começam já a aparecer também bastantes opinion makers a criticar o facto de pouco ou nada se estar a fazer na cidade e isso é uma coisa que não vai facilitar a reeleição de António Costa. Tem de melhorar várias coisas e alterar alguns rumos de opções que tem vindo a tomar, se não vai ter algumas dificuldades. Não sei contra quem ao certo vai concorrer,
ela claramente desincentiva e penaliza a participação de movimentos independentes. Houve síntomas no sentido de não facilitar a participação de movimentos independentes nas intercalares de 2007, como por exemplo a marcação dos prazos muito curtos para as eleições, que depois foram adiados. Foi um sinal contrário ao que acontece nos restantes países europeus, em que tem havido uma adaptação do quadro legal das eleições locais, para que cada vez mais exista representatividade de movimentos independentes.
PL – Existe um fenómeno de criação de novos partidos políticos: só este ano nasceram dois novos partidos políticos, primeiro o Movimento Mérito e Sociedade liderado pelo Professor Eduardo Correia e depois o Movimento Esperança Portugal presidido pelo Dr. Rui Marques. Um terceiro partido está a reunir assinaturas, liderado pela Professora Manuela Magno. Como comenta este fenómeno? Acha que o mapa político português vais mudar? Há espaço para novos partidos políticos?
CR – Eu acho que não – tem que haver é uma reforma dos actuais partidos políticos.Uma reforma que começa pelo interior. O aparecer de novos partidos é normal em democracia e são síntomas do desconforto e do desagrado de uma parte da população, relativamente ao desempenho dos partidos existentes, portanto, vejo isso com naturalidade. A verdade é que um movimento independente é diferente de passar de um movimento de cidadãos a partido, pois quando se ganha uma certa escala começasse a ter os mesmos problemas que os outros partidos têm. Acho de salutar que esses partidos apareçam, mas não vejo que venham alterar significativamente o padrão existente de distribuição de votos. Acho que devia ser posta em reflexão uma certa reforma dos actuais partidos, principalmente dos grandes, enfim, acabar com uma lógica de funcionamento muito corporativista que põe o interesse dos próprios partidos à frente do interesse da população. Dentro de cada partido tem que haver uma reflexão sobre se aquilo que fazem lá dentro está na linha daquilo que o país precisa.
PL – O Professor quando exerceu funções pelo PSD sentiu-se pressionado pelo aparelho?
CR – Pressionado não, aliás, fui convidado para integrar um governo e fui convidado para ser candidato à CML pelo PSD. Mas é verdade que o facto de ter sido independente não meu deu algum apoio e protecção que se fosse militante teria e senti muito isso. Não digo que tenha sido posto de lado por não pertencer à estrutura do partido, mas o ser pressionado não. Sou imúne a qualquer pressão, seja do partido ou de qualquer outro lado. Não digo pressões, mas tentativas de influenciar e de às vezes arranjar coisas para certas pessoas, isso houve, mas eu sou imúne a isso. Também por ter sido imúne a essas coisas é que sofri o que sofri.
PL – Voltando a Lisboa. Se tivesse que eleger uma área prioritária para a actuação da CML, qual seria?
CR – Uma área fundamental de intervenção no curto prazo continuam a ser aqueles projectos que eu no meu mandato tinha posto como prioritários e que este executivo pôs de parte. Para quem não sabe bem a realidade de Lisboa, talvez o que eu vá dizer não diga muito a muitas pessoas. Tinha posto como prioridade a reabilitação urbana de três bairros: que são o Bairro Padre Cruz, Bairro da Boavista e Bairro da Liberdade. Lisboa não pode ter bairros com tantos problemas sociais como têm esses três bairros. Eu tinha feito aprovar na CML soluções para a reabilitação urbana desses três bairros, que agora foram postas na gaveta, o que vejo com grande tristeza. Hoje em dia, dentro da grande panóplia de problemas que Lisboa tem, eu voltaria a pôr estes três bairros como prioridade.
PL – Acha que o actual Presidente, António Costa, será reeleito em 2009?
CR – Eu acho que pode ser, é um grande candidato e beneficia sempre do facto de já lá estar. Agora acho que ele tem que fazer mais e melhor e que tem que fazer algumas alterações no rumo que tem vindo a traçar. Há um ano o candidato António Costa era um fortíssimo candidato, era o número dois do Partido Socialista, tinha toda a máquina do aparelho e juntou à sua volta tudo o que eram apoiantes – o PS jogou os trunfos todos e teve um resultado muito à quem do que era de esperar perante esta aposta. Recordo que só ficou com seis veradores o que é um resultado modesto para quem apostou tudo em Lisboa. Mas criou-se uma grande expectativa, principalmente na comunicação social, pensou-se que agora é que isto ia entrar nos eixos, tudo que era mau antes ia passar a ser bom, passado quase um ano e meio já se começa a sentir na população muito desencanto não tanto por aquilo que foi feito, mas principalmente por aquilo que não foi feito. Começam já a aparecer também bastantes opinion makers a criticar o facto de pouco ou nada se estar a fazer na cidade e isso é uma coisa que não vai facilitar a reeleição de António Costa. Tem de melhorar várias coisas e alterar alguns rumos de opções que tem vindo a tomar, se não vai ter algumas dificuldades. Não sei contra quem ao certo vai concorrer, mas terá que inverter algumas opções.
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