Uma coisa é certa: o tempo anda sempre à mesma velocidade. Como também se diz em matemática, o tempo é uma variável independente. Graças a Deus! O que seria se o Homem comandasse o tempo, tornando-o uma variável dependente? Apesar de a Teoria da Relatividade ter vindo demonstrar a dependência do tempo em relação à velocidade da luz, a verdade é que não temos ainda a possibilidade de viajar no tempo. Nem para o passado, nem para o futuro.
Vem isto a propósito do ano que começou agora e das inúmeras vontades que vão surgir em ano de muitas eleições. Vão certamente aparecer inúmeras vontades de mostrar muito serviço, de prometer soluções rápidas, de resolver problemas antigos. Enfim, de se querer recuperar o tempo perdido. Ora o que a nossa experiência nos diz é que, infelizmente, o tempo nunca se recupera como nós gostaríamos. Nem a melhor técnica de comunicação conseguirá alterar a convicção profundamente enraizada nas pessoas de que se continua a ver o relógio a andar à mesma velocidade e certas coisas a andar para trás.
Costumo dizer que no calendário de objectivos a cumprir há voos de grande, de média e de baixa altitude. Num mandato de quatro anos é possível fazer voos de baixa ou média altitude. Todavia, não é possível cumprir voos de grande altitude, que impliquem “durações de voo” superiores a quatro anos. Quer isto dizer que só será legítimo prometer objectivos que sejam exequíveis dentro desse prazo.
O que a nossa experiência colectiva tem demonstrado, associada a um profundo e crescente desencanto dos portugueses, é que certos objectivos de médio-longo prazo nunca são verdadeiramente atingidos. E mesmo os de curto-médio prazo são completamente alterados ou subvertidos se por acaso a cor política muda no final dos quatro anos. Assim, não há tempo que chegue. Ou, pior ainda, o tempo não resolve nada!
No primeiro caso, podemos citar como exemplo as reformas da saúde, da educação, da justiça ou da divisão administrativa. E o que as pessoas verdadeiramente sentem, e não entendem, é como é que é possível ter-se passado tanto tempo desde o 25 de Abril e estarem ainda por fazer tantas reformas importantes. Como é que é possível que a distribuição da riqueza seja muito mais injusta hoje do que era há trinta ou quarenta anos atrás?
Ninguém duvida que para se atingirem esses objectivos é preciso um entendimento bastante alargado, que não deverá ser conseguido sem os principais partidos. Não havendo forma de se impor aos partidos, terão de ser estes a assumir uma responsabilidade perante os portugueses, principalmente para se recuperar o tempo perdido em muitas coisas que nos fazem andar cada vez mais atrasados, mesmo relativamente ao resto da Europa. Porque é que não será possível levar por diante esses desígnios nacionais? Será um problema de actores?
Neste período pré-eleitoral já se começou em falar da cigarra e da formiga. Também gostaria de lembrar a fábula da tartaruga e da lebre. Ou ainda a do velho e do burro. São histórias que nos ensinam muito. Que bem vendidas, em certo contexto, fazem que as pessoas quase não tenham dúvidas sobre determinadas opções.
Mas o que as pessoas realmente procuram é encontrar soluções. Soluções tanto para os problemas de ontem como os de hoje. A pensar no futuro. No futuro delas, e dos seus filhos. Haverá em 2009 muitos vendedores de sonhos. Dos que dizem que vão ser como uma lebre, correndo muito velozmente para recuperar o tempo perdido. Mas também dos que dizem que não vão fazer promessas e que lá chegarão a bom porto, antes tarde que nunca…
Portugal tem sido muito assim nos últimos anos. Do oito ao oitenta. Do oitenta ao oito. De lebres a tartarugas. De formigas a cigarras. Mais do tipo salta-pocinhas. Sem estratégia definida. Sem normalidade nem regularidade.
Relembro aquela frase maravilhosa do filme “O leopardo”, do Luchino Visconti: por vezes, é preciso mudar alguma coisa para que fique tudo na mesma. Acho que está mais do que na altura de mudar alguma coisa para que não fique tudo na mesma!
Lisboa, 12 de Janeiro de 2009
António Carmona Rodrigues
Vem isto a propósito do ano que começou agora e das inúmeras vontades que vão surgir em ano de muitas eleições. Vão certamente aparecer inúmeras vontades de mostrar muito serviço, de prometer soluções rápidas, de resolver problemas antigos. Enfim, de se querer recuperar o tempo perdido. Ora o que a nossa experiência nos diz é que, infelizmente, o tempo nunca se recupera como nós gostaríamos. Nem a melhor técnica de comunicação conseguirá alterar a convicção profundamente enraizada nas pessoas de que se continua a ver o relógio a andar à mesma velocidade e certas coisas a andar para trás.
Costumo dizer que no calendário de objectivos a cumprir há voos de grande, de média e de baixa altitude. Num mandato de quatro anos é possível fazer voos de baixa ou média altitude. Todavia, não é possível cumprir voos de grande altitude, que impliquem “durações de voo” superiores a quatro anos. Quer isto dizer que só será legítimo prometer objectivos que sejam exequíveis dentro desse prazo.
O que a nossa experiência colectiva tem demonstrado, associada a um profundo e crescente desencanto dos portugueses, é que certos objectivos de médio-longo prazo nunca são verdadeiramente atingidos. E mesmo os de curto-médio prazo são completamente alterados ou subvertidos se por acaso a cor política muda no final dos quatro anos. Assim, não há tempo que chegue. Ou, pior ainda, o tempo não resolve nada!
No primeiro caso, podemos citar como exemplo as reformas da saúde, da educação, da justiça ou da divisão administrativa. E o que as pessoas verdadeiramente sentem, e não entendem, é como é que é possível ter-se passado tanto tempo desde o 25 de Abril e estarem ainda por fazer tantas reformas importantes. Como é que é possível que a distribuição da riqueza seja muito mais injusta hoje do que era há trinta ou quarenta anos atrás?
Ninguém duvida que para se atingirem esses objectivos é preciso um entendimento bastante alargado, que não deverá ser conseguido sem os principais partidos. Não havendo forma de se impor aos partidos, terão de ser estes a assumir uma responsabilidade perante os portugueses, principalmente para se recuperar o tempo perdido em muitas coisas que nos fazem andar cada vez mais atrasados, mesmo relativamente ao resto da Europa. Porque é que não será possível levar por diante esses desígnios nacionais? Será um problema de actores?
Neste período pré-eleitoral já se começou em falar da cigarra e da formiga. Também gostaria de lembrar a fábula da tartaruga e da lebre. Ou ainda a do velho e do burro. São histórias que nos ensinam muito. Que bem vendidas, em certo contexto, fazem que as pessoas quase não tenham dúvidas sobre determinadas opções.
Mas o que as pessoas realmente procuram é encontrar soluções. Soluções tanto para os problemas de ontem como os de hoje. A pensar no futuro. No futuro delas, e dos seus filhos. Haverá em 2009 muitos vendedores de sonhos. Dos que dizem que vão ser como uma lebre, correndo muito velozmente para recuperar o tempo perdido. Mas também dos que dizem que não vão fazer promessas e que lá chegarão a bom porto, antes tarde que nunca…
Portugal tem sido muito assim nos últimos anos. Do oito ao oitenta. Do oitenta ao oito. De lebres a tartarugas. De formigas a cigarras. Mais do tipo salta-pocinhas. Sem estratégia definida. Sem normalidade nem regularidade.
Relembro aquela frase maravilhosa do filme “O leopardo”, do Luchino Visconti: por vezes, é preciso mudar alguma coisa para que fique tudo na mesma. Acho que está mais do que na altura de mudar alguma coisa para que não fique tudo na mesma!
Lisboa, 12 de Janeiro de 2009
António Carmona Rodrigues
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