Publicado na Revista "Transportes em Revista" - edição Abril 2009
Planear é preciso. Mas bem
Vivemos tempos de incerteza. A actual situação económica e financeira, que alguns previram mas que muitos não quiseram vislumbrar, aliada a uma situação social muito difícil com níveis de desemprego extremamente preocupantes, tem obrigado a muitas reflexões. Temas como a globalização, a transparência e seriedade dos mercados financeiros, a sustentabilidade energética ou as mudanças climáticas têm estado na ordem do dia de altos responsáveis em todo o mundo.
Espero que desta crise surja um tempo novo, assente em ideias humanistas que privilegiem as questões sociais e ambientais, em detrimento das questões meramente economicistas, como muitas vezes aconteceu no passado. Mas é também obrigatório extrair ensinamentos do que não correu bem, ou do que não tem vindo a correr bem.
Refiro-me em particular a uma certa aversão que parece existir em Portugal ao exercício de planeamento. É verdade que se fazem muitos planos, mas muitos não são executados, são olimpicamente esquecidos ou ainda se verifica a posteriori que se basearam em pressupostos errados.
Quem imaginaria, por exemplo, que neste ano de 2009 a TAP fosse obrigada a cancelar milhares de voos? Esta decisão, aliás, não se prende com o preço dos combustíveis mas com a falta de procura, e não se sabe até quando irá durar a actual situação. Poder-se-á perguntar se este fenómeno que se verifica poderia ou não ser previsível. Mas, mesmo que não o fosse, e perante esta nova realidade, não se deveriam actualizar, por exemplo, os estudos de procura do novo aeroporto? E não se deveria saber se o tão falado esgotamento da Portela acontecerá afinal noutra data bem diferente?
De facto, há assuntos da maior importância que, se não eram previsíveis, não podiam ter deixado de ser equacionados. Cito por exemplo certas situações que seria fácil antever que não poderiam eternizar-se, tais como o ritmo de construção de novos edifícios, o ritmo de fabrico de novos automóveis ou o frenesim de certos mercados financeiros. Fundamental é também ter em conta o persistente envelhecimento da população, nomeadamente no nosso País onde a taxa de natalidade continua teimosamente a diminuir de ano para ano.
Quando se pratica o exercício de planeamento a longo prazo, como é o caso das grandes infra-estruturas de transportes, tais como um novo aeroporto de uma cidade capital ou de uma rede de alta velocidade, não se pode deixar de atender a determinados cenários de índole sócio-demográfica, económica ou ambiental.
E é por isso que, face a um ambiente de incerteza normalmente presente nestas questões, é exigível contemplar, também, soluções faseadas ou incrementais que, muitas vezes, oferecem diversas vantagens. Vantagens que podem ser, seguramente, de ordem económica e financeira, mas que têm também a ver com a possibilidade de ir ajustando o plano ao longo do tempo e na medida em que eventuais alterações de cenários o justifiquem. Há quem chame a este processo planeamento dinâmico ou rolling planning.
No caso do aeroporto da Ota, eu próprio tive por diversas vezes a oportunidade de criticar o projecto pela dificuldade em se prever uma solução faseada. Mas outras situações que lamentavelmente ocorreram no passado, como o Porto de Sines, as SCUT ou a Navegabilidade do rio Douro, em que a não verificação de algumas premissas e a ausência de planos de contingência conduziu a situações altamente lesivas dos cofres do Estado.
O rigor e a obrigação de bom uso dos dinheiros públicos devem conduzir, mais do que nunca, ao desenvolvimento de planos solidamente alicerçados mas suficientemente flexíveis para acomodar adaptações e ajustamentos.
António Carmona Rodrigues, 6 de Maio de 2009
Vivemos tempos de incerteza. A actual situação económica e financeira, que alguns previram mas que muitos não quiseram vislumbrar, aliada a uma situação social muito difícil com níveis de desemprego extremamente preocupantes, tem obrigado a muitas reflexões. Temas como a globalização, a transparência e seriedade dos mercados financeiros, a sustentabilidade energética ou as mudanças climáticas têm estado na ordem do dia de altos responsáveis em todo o mundo.
Espero que desta crise surja um tempo novo, assente em ideias humanistas que privilegiem as questões sociais e ambientais, em detrimento das questões meramente economicistas, como muitas vezes aconteceu no passado. Mas é também obrigatório extrair ensinamentos do que não correu bem, ou do que não tem vindo a correr bem.
Refiro-me em particular a uma certa aversão que parece existir em Portugal ao exercício de planeamento. É verdade que se fazem muitos planos, mas muitos não são executados, são olimpicamente esquecidos ou ainda se verifica a posteriori que se basearam em pressupostos errados.
Quem imaginaria, por exemplo, que neste ano de 2009 a TAP fosse obrigada a cancelar milhares de voos? Esta decisão, aliás, não se prende com o preço dos combustíveis mas com a falta de procura, e não se sabe até quando irá durar a actual situação. Poder-se-á perguntar se este fenómeno que se verifica poderia ou não ser previsível. Mas, mesmo que não o fosse, e perante esta nova realidade, não se deveriam actualizar, por exemplo, os estudos de procura do novo aeroporto? E não se deveria saber se o tão falado esgotamento da Portela acontecerá afinal noutra data bem diferente?
De facto, há assuntos da maior importância que, se não eram previsíveis, não podiam ter deixado de ser equacionados. Cito por exemplo certas situações que seria fácil antever que não poderiam eternizar-se, tais como o ritmo de construção de novos edifícios, o ritmo de fabrico de novos automóveis ou o frenesim de certos mercados financeiros. Fundamental é também ter em conta o persistente envelhecimento da população, nomeadamente no nosso País onde a taxa de natalidade continua teimosamente a diminuir de ano para ano.
Quando se pratica o exercício de planeamento a longo prazo, como é o caso das grandes infra-estruturas de transportes, tais como um novo aeroporto de uma cidade capital ou de uma rede de alta velocidade, não se pode deixar de atender a determinados cenários de índole sócio-demográfica, económica ou ambiental.
E é por isso que, face a um ambiente de incerteza normalmente presente nestas questões, é exigível contemplar, também, soluções faseadas ou incrementais que, muitas vezes, oferecem diversas vantagens. Vantagens que podem ser, seguramente, de ordem económica e financeira, mas que têm também a ver com a possibilidade de ir ajustando o plano ao longo do tempo e na medida em que eventuais alterações de cenários o justifiquem. Há quem chame a este processo planeamento dinâmico ou rolling planning.
No caso do aeroporto da Ota, eu próprio tive por diversas vezes a oportunidade de criticar o projecto pela dificuldade em se prever uma solução faseada. Mas outras situações que lamentavelmente ocorreram no passado, como o Porto de Sines, as SCUT ou a Navegabilidade do rio Douro, em que a não verificação de algumas premissas e a ausência de planos de contingência conduziu a situações altamente lesivas dos cofres do Estado.
O rigor e a obrigação de bom uso dos dinheiros públicos devem conduzir, mais do que nunca, ao desenvolvimento de planos solidamente alicerçados mas suficientemente flexíveis para acomodar adaptações e ajustamentos.
António Carmona Rodrigues, 6 de Maio de 2009
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