in: Revista do Automóvel Clube de Portugal de Abril de 2008
Os velocímetros
Vi há tempos um elegante folheto publicitário que anunciava uma marca famosa de motocicletas. Este folheto datava dos anos quarenta. Nele apresentavam-se também, além de alguns modelos de motocicletas, diversos acessórios. Um destes, o velocímetro (speedometer), podia pois ser vendido opcionalmente como acessório. Constatei então que o chamado conta-quilómetros, ou mais precisamente o taquímetro ou velocímetro, que indica a velocidade de deslocação do veículo, era um instrumento que não só não estava incluído no veículo de origem, como não era obrigatório à época.
Numa primeira reflexão, pensei que estranho que seria uma pessoa conduzir um veículo sem saber ao certo a que velocidade ía. Mas depois comecei a alargar o meu pensamento sobre o assunto. Pensei que, nesses anos já longinquos, possuir uma licença de condução era seguramente ter uma habilitação ou um título associado a uma grande responsabilidade. Tenho a certeza que, tal como agora, obter uma carta de condução implicava uma profunda consciência sobre os perigos que daí poderiam resultar para terceiros e para o próprio. Estou seguro que, tal como agora, a velocidade de condução deveria em cada momento ser totalmente adequada às condições atmosféricas, ao tipo e estado de conservação da estrada, ao tráfego observado, bem como às características do próprio veículo.
Mas a verdade é que o número ainda chocante de acidentes que se continua a registar no país se deve, na esmagadora maioria dos casos, a excessos de velocidade. E a questão é a seguinte: tinham ou não os condutores forma de saber a que velocidade iam? A resposta é sim, claro que sim, pois todos os veículos estão equipados com velocímetros, cada vez mais sofisticados, aliás. Outra pergunta que se pode colocar é: são ou não conhecidos os limites máximos de velocidade nas ruas, estradas e auto-estradas? Claro que sim, embora em alguns casos a sinalização pudesse realmente ser melhor.
Então, qual o balanço que se faz do uso de velocímetros? Para que têm servido? Aparentemente, para muito pouco. Hoje, por exemplo com a aproximação aos radares, servem para os condutores corrigirem a condução para não virem a ter problemas com o pagamento de multas. Em outros casos servirão também para a obtenção de médias que conduzam a tempos de viagem dentro do que se havia planeado. Definitivamente, não têm servido para uma condução responsável e segura.
Os radares, ou qualquer outra forma de controlo da velocidade, visam no fundo a garantia de que os condutores não ultrapassam os limites de velocidade estabelecidos por lei e que garantem, em condições normais, segurança. Estou convencido de que, a menos que houvesse controladores de velocidade em cada quilómetro de estrada, em cada avenida ou rua, nunca deixaria de haver transgressões, acidentes e vítimas. Será esta a solução para sairmos desta vergonha nacional que são os acidentes e as vítimas da estrada? Será solução o aprofundamento de medidas que visam somente a punição das transgressões? Será solução esta espécie de jogo do rato e do gato?
Pessoalmente, não discordando de uma ou outra medida criteriosamente estudada, acho que não é o caminho certo. É precisa uma nova aitutude, uma atitude muito mais consciente. Uma atitude com mais liberdade mas também com muito mais responsabilidade. É por isso que digo também, ainda que com alguma dose de idealismo ou utopia, que se impunha uma atitude que tornasse de novo os velocímetros opcionais…
Vi há tempos um elegante folheto publicitário que anunciava uma marca famosa de motocicletas. Este folheto datava dos anos quarenta. Nele apresentavam-se também, além de alguns modelos de motocicletas, diversos acessórios. Um destes, o velocímetro (speedometer), podia pois ser vendido opcionalmente como acessório. Constatei então que o chamado conta-quilómetros, ou mais precisamente o taquímetro ou velocímetro, que indica a velocidade de deslocação do veículo, era um instrumento que não só não estava incluído no veículo de origem, como não era obrigatório à época.
Numa primeira reflexão, pensei que estranho que seria uma pessoa conduzir um veículo sem saber ao certo a que velocidade ía. Mas depois comecei a alargar o meu pensamento sobre o assunto. Pensei que, nesses anos já longinquos, possuir uma licença de condução era seguramente ter uma habilitação ou um título associado a uma grande responsabilidade. Tenho a certeza que, tal como agora, obter uma carta de condução implicava uma profunda consciência sobre os perigos que daí poderiam resultar para terceiros e para o próprio. Estou seguro que, tal como agora, a velocidade de condução deveria em cada momento ser totalmente adequada às condições atmosféricas, ao tipo e estado de conservação da estrada, ao tráfego observado, bem como às características do próprio veículo.
Mas a verdade é que o número ainda chocante de acidentes que se continua a registar no país se deve, na esmagadora maioria dos casos, a excessos de velocidade. E a questão é a seguinte: tinham ou não os condutores forma de saber a que velocidade iam? A resposta é sim, claro que sim, pois todos os veículos estão equipados com velocímetros, cada vez mais sofisticados, aliás. Outra pergunta que se pode colocar é: são ou não conhecidos os limites máximos de velocidade nas ruas, estradas e auto-estradas? Claro que sim, embora em alguns casos a sinalização pudesse realmente ser melhor.
Então, qual o balanço que se faz do uso de velocímetros? Para que têm servido? Aparentemente, para muito pouco. Hoje, por exemplo com a aproximação aos radares, servem para os condutores corrigirem a condução para não virem a ter problemas com o pagamento de multas. Em outros casos servirão também para a obtenção de médias que conduzam a tempos de viagem dentro do que se havia planeado. Definitivamente, não têm servido para uma condução responsável e segura.
Os radares, ou qualquer outra forma de controlo da velocidade, visam no fundo a garantia de que os condutores não ultrapassam os limites de velocidade estabelecidos por lei e que garantem, em condições normais, segurança. Estou convencido de que, a menos que houvesse controladores de velocidade em cada quilómetro de estrada, em cada avenida ou rua, nunca deixaria de haver transgressões, acidentes e vítimas. Será esta a solução para sairmos desta vergonha nacional que são os acidentes e as vítimas da estrada? Será solução o aprofundamento de medidas que visam somente a punição das transgressões? Será solução esta espécie de jogo do rato e do gato?
Pessoalmente, não discordando de uma ou outra medida criteriosamente estudada, acho que não é o caminho certo. É precisa uma nova aitutude, uma atitude muito mais consciente. Uma atitude com mais liberdade mas também com muito mais responsabilidade. É por isso que digo também, ainda que com alguma dose de idealismo ou utopia, que se impunha uma atitude que tornasse de novo os velocímetros opcionais…
Lisboa, Abril de 2008
António Carmona Rodrigues
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