domingo, 14 de outubro de 2007

Uma Cidade a duas Margens in Público 14.10.2007



Estrangeirismos
Às vezes recebemos ilustres estrangeiros que nos visitam e vêm falar sobre assuntos diversos cá da terra. O arquitecto Richard Rogers veio esta semana a Lisboa convidado para participar, como orador convidado, numa conferência sobre frentes ribeirinhas (waterfront). Este arquitecto é um nome bem conhecido internacionalmente, tendo inclusivamente recebido há pouco o prémio Pritzker, por muitos visto como o Nobel da Arquitectura. Richard Rogers tem também sido o consultor do presidente da câmara de Londres, Ken Livingstone, para as áreas de arquitectura e urbanismo.
O arquitecto falou de um possível desenvolvimento urbanístico para a Margueira, em Almada, com conhecimento de causa, pois há uns anos esteve ligado a um outro estudo para o local, conhecido por Manhattan de Cacilhas, que suscitou grande polémica. Richard Rogers veio falar sobre as frentes ribeirinhas que no passado estiveram ocupadas por actividades industriais e que ao longo dos tempos se tornaram zonas abandonadas, degradadas e mesmo perigosas, sendo hoje verdadeiras oportunidades para a reabilitação. Falou nas vantagens da intervenção urbanística para aquela zona, com referência a inúmeras facetas da intervenção para ali pensada, no equilíbrio entre a construção de edifícios para habitação e terciário de qualidade, novos espaços públicos e zonas verdes, equipamentos, ciclovias e vias pedonais.
Mas defendeu também uma outra visão mais alargada do projecto, de uma “cidade a duas margens”. Do meu ponto de vista, não só concordo como se trata também de constatar uma dinâmica que se tem vindo a desenvolver em termos metropolitanos. Para tal, é fundamental a permeabilidade entre as margens, boas acessibilidades, devendo-se começar por apostar em transportes colectivos.
O arquitecto defendeu a ideia de ligação do metropolitano entre Lisboa e Cacilhas. Não fui eu o autor original desta ideia, mas também a tenho defendido desde 2004, quando tutelava a pasta dos Transportes.
Entre as duas margens existem já os modos de transporte fluvial, rodoviário e ferroviário pesado. Uma ligação em modo ferroviário ligeiro traria imensas vantagens na consolidação de uma “cidade a duas margens”. Exemplos deste tipo existem em várias cidades do mundo, lembrando-me desde logo, pela semelhança com o nosso estuário, São Francisco e o sucesso do BART (bay area railway transportation). Esta alternativa de transporte, com ligação ao metro sul do Tejo no lado de Almada, aliviaria por certo a intensidade de tráfego na ponte 25 de Abril, reduziria as horas de transporte de milhares de pessoas, reduziria muito significativamente as emissões de CO2 e melhoraria seguramente os resultados de exploração do Metro de Lisboa.
Estamos perante alguns dos grandes desafios da área metropolitana de Lisboa, que urge debater e avançar, tais como os estudos para a ligação rodoviária, por túnel, entre Algés e a Trafaria, ou a designada Terceira Travessia do Tejo (TTT).
Os legítimos interesses do sector privado podem e devem ser parte integrante de uma solução que contemple o co-financiamento de infraestruturas vitais para um sustentável ordenamento do território.
A vinda do arquitecto Richard Rogers é, também por este motivo, de saudar. Para que se oiça, venham pois, por favor, mais figuras estrangeiras para colocar na agenda assuntos importantes para todos nós.


António Carmona Rodrigues, Outubro 2007

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